TOXOPLASMOSE: O MAIOR PERIGO ESTÁ ONDE VOCÊ NEM IMAGINA
Dra. Claudia Batistella Scaf
A toxoplasmose é uma zoonose (doença transmitida dos animais aos
homens) causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii.
Infelizmente, não faz parte da rotina médica o atendimento de zoonoses,
mas para nós, médicos veterinários, é muito comum. Nós lutamos todos os
dias para derrubar o mito de que o gato é grande vilão da toxoplasmose;
queremos mostrar à população como realmente acontece a transmissão.
Realmente, não se pode negar, o Toxoplasma Gondii é um protozoário que
tem seu ciclo de vida em diversos carnívoros, mas somente no felino ele é
capaz de completá-lo e infestar o meio ambiente. Mas há um caminho
longo e cheio de barreiras para que uma pessoa adquira a doença
diretamente do injustiçado gato. Em 1º lugar, não são todos os felinos
que têm predisposição para fazer a doença, mas somente aqueles que
ingerem carne crua ou mal assada ou que são caçadores (baratas,
ratos,etc.). Para que ocorra transmissão para o gato, é necessário que o
este coma a carne que contenha os cistos do toxoplasma. Na maioria, são
animais que tem acesso à rua e que estão com seu sistema imune
comprometido. Estima-se que apenas 1%- UM EM CEM! – da população felina
albergue o protozoário. Em 2º lugar, o gato, se estiver contaminado, só
elimina o parasito nas fezes durante 15 dias e apenas uma vez em toda a
sua vida. Geralmente esta eliminação ocorre 10 dias após ter se
infectado. Em 3º lugar, para ocorrer a contaminação de pessoas a partir
das fezes do gato, é necessário que estas fezes fiquem no ambiente por,
NO MÍNIMO, 48 horas, e que depois sejam ingeridas; caso contrário, o
ciclo não se completa! Os gatos possuem o hábito de limpar-se, não
deixando restos de fezes na pelagem, e enterram seus excrementos. Porém,
mesmo que não se limpem, já há estudos mostrando que não há viabilidade
de infecção caso hajam fezes grudadas no pêlo do animal. A
possibilidade de contaminação do proprietário do gato pelo próprio gato é
mínima ou inexistente. Acariciar um gato e tê-lo como animal de
companhia não representa perigo. Mordidas ou arranhões do gato também
não transmitem toxoplasmose. O mais comum é que a doença seja adquirida
via ingestão de carnes mal cozidas, e também pela ingestão de verduras e
legumes mal lavados e falta de higienização das mãos após o manuseio
com terra. Tendo em vista o supracitado, é por isso que há um alto
índice de toxoplasmose em Portugal, pelo alto consumo de embutidos
(leia-se sem cozimento), e também em Erechim, que é o lugar com maior
índice de toxoplasmose no planeta, pelo alto consumo de carne suína mal
cozida. Ademais, somente pessoas imunodeficientes ou as mulheres
grávidas que nunca tiveram contato com o parasita (leia-se sem formação
de anticorpos) formam o grupo de risco. Se fizermos sorologia numa
determinada população, a maioria será positiva para toxoplasmose, não
pelo fato de terem a doença, mas sim porque, em algum momento da vida,
houve contato com o cisto do parasita e o corpo produziu anticorpos, e
estes anticorpos permanecem para o resto da vida. Portanto, que fique
bem claro que beijar, abraçar, dormir com gatos NÃO LEVA À TRANSMISSÃO
DA TOXOPLASMOSE! A prevenção da toxoplasmose se dá com boas práticas de
higiene, tais como limpar a caixa de areia dos felinos diariamente, não
ingerir alimentos crus ou mal-cozidos sem prévio congelamento por 48
horas, não ingerir leite in natura e embutidos não fiscalizados, limpar
cuidadosamente qualquer material que entre em contato com carnes cruas, e
fazer uso de luvas ao realizar jardinagem. Além disso, evite que seu
gato tenha acesso á rua e, é claro, o animal deve ser vacinado,
desparasitado interna e externamente e examinado regularmente por um
médico veterinário para que se evite qualquer doença. Na dúvida? Faça
uma sorologia, sua e do seu felino, para toxoplasmose. E por favor, não
abandone seu animal de estimação!
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