Castrados, os bichanos desenvolvem um lado mais caseiro. E, ao ficarem mais em casa, se expõem menos a riscos e doenças e vivem mais
Aretha Yarak
Gatos castrados tendem a ser mais caseiros, assim se envolvem menos em brigas e adoecem menos
Existem hoje 19,8 milhões de gatos no Brasil. A Associação Brasileira
da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que
esse número chegará a 23,1 milhões em 2013. Em 10 anos, os gatos
brasileiros ultrapassarão o número de cães domésticos — por ora, ainda o
mais popular amigo do homem. A explosão populacional felina traz à tona
uma importante questão sobre como cuidar desse animal, tipicamente
selvagem, independente e predador: os benefícios da castração. O que
pode parecer um ato cruel à primeira vista, é uma necessária medida para
garantir a qualidade de vida do próprio animal.
Inférteis por uma boa causa
Criada em janeiro de 2003, a ONG Adote um Gatinho é uma das vozes mais fortes no país em campanhas de castração do animal. Nesses 10 anos de existência, a organização já doou 5.200 gatos. Todos estavam devidamente castrados.Em 2001, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo deu início a uma campanha para castração de gatos e cachorros. Até 2010, os cachorros ainda eram a maioria dos animais que passavam pelo procedimento — 25.900 cães para 23.413 gatos. No ano seguinte, os felinos já passaram a ser maioria. Em 2012, foram esterilizados 109.725 animais ao todo: 57.637 gatos e 52.088 cachorros. "O perfil de São Paulo vem mudando. Hoje há uma verticalização maior, as casas têm quintais menores. Isso pode estar colaborando para o aumento no número de felinos", diz Ana Claudia Furlan Mori, gerente do CCZ.
A cirurgia de castração retira o órgão reprodutivo do gato no todo ou
em parte. Nos machos, apenas o testículo é removido e eles se recuperam
em poucos dias. Já nas fêmeas, a esterilização é feita com a retirada
total de útero e ovários. Nesse procedimento, há abertura da barriga do
animal para extração dos órgãos. A cicatrização leva cerca de uma
semana. "Depois da operação, os gatos domésticos saem menos de casa. É
como se eles desenvolvessem um comportamento mais caseiro", diz Susan
Yamamoto, uma das fundadoras da ONG Adote um Gatinho.
Ao perambular menos pela vizinhança, os animais tendem a viver mais,
simplesmente porque se expõem menos a situações de risco. Segundo
Luciana Deschamps, médica veterinária e uma das fundadoras da ONG
Felinos do Brasil, lugar de gato doméstico é, como o próprio nome diz,
dentro de casa. "Na rua, ele vai arrumar brigas, se machucar, pegar mais
doenças e ainda corre o risco de ser atropelado", diz. Ao passar mais
tempo fora de casa, o gato é ainda um dos grandes predadores de
passarinhos — em alguns casos, levando ao extermínio de espécies
inteiras.
No caso das fêmeas, há ainda riscos de gestações sequenciais. "Além de
aumentar o número de animais que serão abandonados, essas gestações
debilitam a saúde do bicho", diz Luciana. Ao contrário das cadelas, que
entram no cio apenas duas vezes ao ano, uma gata pode entrar no cio em
períodos variáveis. Há animais que entram em período reprodutivo a cada
dois meses, todos os meses e até mesmo aquelas que demoram apenas 15
dias. O odor que a gata exala, e que atrai o macho, pode ser sentido em
um raio de até três quilômetros — razão da choradeira que atiça o ódio
de vizinhos.
Obesidade felina — De acordo com o médico veterinário
Aulus Carciofi, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias da Unesp de Jabotical, o animal castrado precisa de um
cuidado especial do dono. Ao retirar as gônadas do felino, encerra-se a
produção dos hormônios reprodutivos. Esses hormônios são responsáveis
ainda por controlar o apetite e pela manutenção de uma massa muscular de
qualidade (que consome mais calorias). Assim, sem os hormônios, os
gatos acabam gastando menos energia e comendo mais. "Como resultado, ele
ingere muito mais calorias do que consegue queimar. Até 40% dos gatos
castrados são obesos", diz.
Esse ganho de peso, no entanto, pode ser facilmente revertido pelo
dono. Basta fazer o controle da quantidade de ração que o animal ingere.
"Estão à venda rações para gatos castrados, com menos gordura e mais
fibras", diz Carciofi. Segundo o veterinário, o indicado é que a ração
de um gato castrado tenha menos do que 10% de gordura e mais de 6% de
fibras. "Claro que se você estimular seu animal a fazer exercícios
físicos, brincando com ele, haverá maior queima de calorias, e ele vai
engordar menos."
Fonte: Veja
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